Em Portugal Não Se Come Mal

Em Portugal Não Se Come Mal - 

Miguel Esteves Cardoso Embora brilhe aqui e ali, Em Portugal Não Se Come Mal acabou por desiludir. Começou bem, começou com artigos que trazem à lembrança o MEC de antigamente que trabalhava a língua portuguesa e lhe dava voltas de génio que deixam (ainda hoje!) qualquer leitor a rir desenfreadamente.N'A Causa das Coisas encontra-se pelo menos uma frase genial por artigo (se não mais!), no Em Portugal Não Se Come Mal encontra-se uma ou outra nos primeiros artigos (dignas de nota, há que reconhecer o génio de observações tais como "Os dois molhos portugueses são, metade das vezes, a fome e a outra metade o azeite.") e depois vão gotejando até desaparecer.Os primeiros artigos são despretensiosos, há o omnipresente privilégio burguês típico de MEC, mas também isso tem o seu encanto. Elogia-se Portugal e os produtos que temos, a sagacidade das velhas que vão às praças. É acutilante e ao mesmo tempo humilde. Mas ainda não se chega bem a meio do livro e é um não parar de recomendações para o Gambrinus e restaurantes que tais, conselhos sobre como encomendar presunto do El Corte Inglés, e divagações sobre chefs e culinária e um mundo que não está ao alcance dos bolsos da maioria dos portugueses. Atenção, nada disto seria de desprezar se fosse mais do que um rol de elogios sem uma ponta de humor.Se eu quisesse estar a ler sobre onde comem os ricos e famosos (passe a expressão, que em Portugal há muito pouco quer de uns quer de outros), estaria a ler a Lux ou uma revista do género.Esperava muito melhor do MEC, aliás porque cresci a ler os artigos dele e é uma referência para mim.